Estudos científicos
Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse na relação entre dietas vegetarianas e veganas e o risco de doenças cardiovasculares (DCV). Este texto reúne insights de uma revisão sistemática e meta-análise que investigou essa associação, além de discutir os benefícios de dietas vegetarianas específicas e os riscos relacionados ao consumo de carne vermelha, conforme abordados em três estudos relevantes.
Dietas Vegetarianas e Veganas na Prevenção de Doenças Cardiovasculares
Uma revisão sistemática e meta-análise recente analisou dados de treze estudos de coorte prospectivos, envolvendo mais de 844.000 participantes, para explorar a relação entre dietas vegetarianas e veganas e o risco de doenças cardiovasculares. Os principais objetivos do estudo foram esclarecer as incertezas existentes sobre os impactos dessas dietas na saúde, com foco em doenças cardíacas isquêmicas (DIC) e acidentes vasculares cerebrais (AVC).
Principais Descobertas:
Redução do Risco de Doenças Cardiovasculares (DCV): Os resultados indicaram que vegetarianos apresentaram uma redução de 15% no risco relativo de DCV em comparação com não vegetarianos. O risco relativo (RR) foi de 0,85, com um intervalo de confiança de 95% (IC de 95%: 0,79–0,92).
Doença Cardíaca Isquêmica (DIC): Houve uma redução de 21% no risco relativo de DIC entre vegetarianos em comparação com não vegetarianos (RR: 0,79, IC de 95%: 0,71–0,88). Os veganos mostraram uma redução de 18% no risco de DIC, embora essa associação tenha sido menos precisa devido ao número limitado de estudos.
Acidente Vascular Cerebral (AVC): A análise não encontrou uma associação clara entre dietas vegetarianas ou veganas e o risco de AVC total ou seus subtipos, sugerindo que os resultados são mistos e indicando a necessidade de mais pesquisas. A meta-análise reforça as diretrizes dietéticas que promovem padrões alimentares baseados em vegetais para a prevenção de doenças cardiovasculares, ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de mais investigações para compreender melhor o papel das dietas vegetarianas e veganas na prevenção de AVC.
Avaliação do Risco de Viés (RoB):
O risco de viés nos estudos incluídos foi avaliado usando a ferramenta ROBINS-I, que analisa sete domínios de viés, como confusão, seleção de participantes, classificação de grupos de dieta e outros fatores que poderiam influenciar os resultados. O objetivo era garantir uma avaliação completa da validade interna dos estudos incluídos na meta-análise, fortalecendo a confiança nos achados apresentados.
Benefícios das Dietas Vegetarianas na Saúde Cardiovascular
Outro estudo aprofundou-se nas características específicas das dietas vegetarianas que podem impactar positivamente a saúde cardiovascular. A análise discutiu como a adoção de uma dieta vegetariana pode reduzir significativamente o risco de DCV e mortalidade associada, destacando componentes dietéticos específicos e seus efeitos sobre os lipídios séricos, a pressão arterial e o controle glicêmico.
Componentes Benéficos das Dietas Vegetarianas:
Frutas e Vegetais: Aumento do consumo de frutas e vegetais está associado a uma menor incidência de doenças cardíacas coronarianas e AVC, devido à alta concentração de vitaminas, minerais e antioxidantes que ajudam a proteger o coração.
Fibra Alimentar: Uma maior ingestão de fibras está correlacionada com uma redução significativa no risco de eventos coronários e mortalidade por DCC. Por exemplo, um aumento de 10 g de fibra por dia pode resultar em uma redução relativa de 14% no risco de eventos coronários e 27% na morte por DCC.
Grãos Integrais, Nozes e Sementes: São componentes essenciais das dietas vegetarianas, oferecendo nutrientes essenciais, gorduras saudáveis e antioxidantes que ajudam a melhorar a saúde cardiovascular.
Proteína de Soja e Esteróis Vegetais: Esses alimentos são associados a efeitos benéficos nos níveis de colesterol e saúde geral do coração. A redução da ingestão de gordura saturada, comum em dietas vegetarianas, também é um fator crítico para a saúde cardiovascular.
Impactos nos Lipídios Sérios e Pressão Arterial:
Lipídios Séricos: Indivíduos que seguem uma dieta vegetariana tendem a ter níveis mais baixos de colesterol total (CT) e colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), devido à maior ingestão de fibras solúveis e esteróis vegetais.
Pressão Arterial: Estudos mostram que vegetarianos geralmente têm pressão arterial sistólica e diastólica mais baixas em comparação com não vegetarianos, atribuídas à alta ingestão de potássio, magnésio e fibras.
Os Riscos Associados ao Consumo de Carne Vermelha
Em contraste com os benefícios das dietas vegetarianas, o consumo de carne vermelha, especialmente a processada, está associado a riscos aumentados de várias doenças crônicas, como diabetes tipo 2, DCV, e diversos tipos de câncer. A revisão conduzida por A. Wolk forneceu um exame abrangente das evidências que relacionam o alto consumo de carne vermelha com resultados negativos de saúde.
Diferenças Entre Carne Vermelha Processada e Não Processada:
Carne Vermelha Processada: Variedades processadas (como presunto, salsichas e bacon) têm sido fortemente associadas a um maior risco de doenças crônicas. Mesmo pequenas quantidades de carne processada podem aumentar significativamente o risco de câncer colorretal, DCV e diabetes tipo 2.
Carne Vermelha Não Processada: Embora o consumo de carne vermelha não processada (como carne bovina e suína) também apresente riscos, os efeitos negativos são menos pronunciados em comparação com carnes processadas. A ingestão moderada pode não estar associada a uma menor sobrevivência, desde que o consumo de carne processada seja limitado.
Aditivos e Contaminantes: Carnes processadas contêm aditivos, como nitratos e nitritos, que podem formar compostos prejudiciais durante o processamento e cozimento. Esses aditivos não estão presentes em carnes não processadas, o que ajuda a explicar a diferença nos riscos à saúde.
Doenças Crônicas Associadas ao Consumo de Carne Vermelha:
Diabetes Tipo 2 e Doenças Cardiovasculares: O aumento da ingestão de carne vermelha, especialmente em formas processadas, está associado a um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Câncer e Mortalidade Geral: O consumo elevado de carne vermelha está relacionado a um risco aumentado de câncer colorretal, câncer de mama e câncer de próstata, bem como a uma maior mortalidade geral.
Para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, várias estratégias dietéticas podem ser adotadas:
Aumente o Consumo de Alimentos de Origem Vegetal: Incorpore mais frutas, vegetais, grãos integrais, nozes e sementes na dieta diária.
Escolha Grãos Integrais: Substitua grãos refinados por integrais, como pão integral, arroz integral e quinoa.
Limite Carnes Vermelhas e Processadas: Opte por proteínas vegetais, como tofu e leguminosas.
Incorpore Gorduras Saudáveis: Priorize fontes de gorduras saudáveis, como abacates, nozes e azeite de oliva.
Reduza o Sódio e Açúcares Adicionados: Limite a ingestão de sal e açúcares, utilizando ervas e especiarias para temperar os alimentos.
Pratique o Controle de Porções e Planeje Refeições Balanceadas: Manter um peso saudável e uma ingestão adequada de nutrientes é crucial para a saúde cardíaca.
Os achados desses estudos sugerem que dietas vegetarianas e veganas estão associadas a uma redução significativa no risco de DCV e DIC, enquanto o consumo elevado de carne vermelha, especialmente processada, está vinculado a um aumento no risco de doenças crônicas. Para promover uma saúde cardiovascular ideal e reduzir o risco de doenças, é recomendável adotar um padrão alimentar que enfatize frutas, vegetais, grãos integrais, nozes, sementes e fontes de proteína vegetal, enquanto limita o consumo de carnes vermelhas e processadas. Pequenas mudanças alimentares podem levar a benefícios substanciais para a saúde a longo prazo.
Fonte:
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